quarta-feira, 28 de abril de 2010

Educação pra quê?

Um convite à reflexão no Dia da Educação.

Pare tudo o que você está fazendo agora porque essa pergunta, de repente, pode te fazer pensar muito. E, realmente, é preciso pensar bastante para responder a essa questão. Para que existe Educação? Existem várias respostas, inúmeras, e tenho certeza de que a maioria das respostas que vocês me derem estarão corretas, até mesmo porque educação não é um conceito fechado e sua utilidade é realmente muito maior do que se pode imaginar. Comecei uma discussão no Twitter, e algumas das respostas foram:

@Natacha_O Pra votar em um analfabeto como presidente.

@Natacha_O Não sei pra que serve. Nunca vi, nem ouvi falar nesse país.

@Natacha_O p/ mim, a educação serve p/ 1 comunicação + eficiente e diminuição de conflitos provocados por "instintos", se é q me entende. rs

@Natacha_O @paolitz Que a educação está relacionada ao social, não tenho dúvidas. Mas será que não há um "pra que serve" mais individual?

@paolitz @Natacha_O @alezev Só deixando meu ponto de vista... mas a educação é premissa para um bom convivio do contexto social

A minha resposta traz influências de uma aula que tive no ano passado, com um professor de filosofia. Ele chegou na sala e fez exatamente essa pergunta. Os alunos de Letras deram suas diversas respostas, nenhuma incorreta, obviamente. Todas faziam muito sentido. Depois de ouvir todos os estudantes, o professor discursou, afinal. E nos deixou intrigados, a princípio.

Ele nos disse que a Educação servia para que Auschwitz não se repetisse. Pra quem não sabe, Auschwitz foi o centro administrativo do nazismo, o nome dos campos de concentração e extermínio, onde foram mortos centenas de milhares de judeus.

Vista de Auschwitz. Na entrada, lê-se: "Arbeit macht frei" - "O trabalho liberta". Quanto senso de humor eles tinham, huh? 

Parece que isso está longe de se repetir, não é mesmo? Mas não sejamos ingênuos. Talvez “Auschwitz” nunca se repita. Mas se colocarmos nossas cabecinhas para funcionar, perceberemos que o Holocausto é apenas uma metáfora para barbárie. A educação deve servir, primeiramente, para evitar as causas da violência entre os seres humanos.

 Theodor Adorno disse o seguinte:

...aquilo que gera Auschwitz, os tipos característicos ao mundo de Auschwitz, constituem presumivelmente algo de novo. Por um lado, eles representam a identificação cega com o coletivo. Por outro, são talhados para manipular massas, coletivos, tais como os Himmler, Höss, Eichmann.”

Identificação cega com o coletivo? Opa. Peraí. Por que ocorre identificação cega com o coletivo? Porque, de um modo geral – observadas as devidas exceções - , não somos educados para pensar. Ainda mais quando se trata de pensar contra a massa. Não somos incentivamos a formular contrapensamentos. É muito mais cômodo seguir os padrões. De beleza, de comportamento, os padrões são os patrões, e nós, os servos.
A utilidade primeira da Educação deve ser a formação de indivíduos capazes de pensar os próprios pensamentos. Capazes de discordar com a violência ao invés de calar diante dela, ou fazer de conta que ela não está ali. A falta de autonomia e de auto-determinação são condições favoráveis à barbárie. O único meio de evitar a metáfora da repetição de Auschwitz é a conquista da autonomia e o poder para negar a barbárie, para que não haja obediência cega a nada, a ninguém.
Você já reparou como nos sentimos mais fortes quando estamos em grupo? É só observar jovens que andam em bandos no ônibus, gritando palavrões, fazendo baderna. Os grupos às vezes nos idiotizam. Nos fazem agir de uma maneira que não agiríamos se estivéssemos sozinhos. De uma maneira que sentiríamos vergonha. Para Adorno, evitar Auschwitz implica em resistir ao poder cego de toda espécie de coletivo, brutalidades e violências justificadas por costumes e ritos.
Em nome dos costumes e ritos, o ser humano tem sido vítima de uma educação pautada pela severidade. Isso facilita o desenvolvimento da barbárie. Afinal, dureza nada mais é do que indiferença à dor. “Quem é severo consigo mesmo, adquire o direito de ser severo com o outro.” Se as pessoas não fossem indiferentes umas às outras, Auschwitz não teria acontecido.
Atualmente, as pessoas se sentem mal amadas, e, consequentemente, incapazes de amar. O calor humano é pré-requisito básico contra a barbárie. Então a educação e o amor devem andar juntos. Não existem separados. É para o amor que a educação deve existir. O amor capaz de impedir a barbárie, a violência e a indiferença entre os seres humanos.
O resto é consequência.