domingo, 6 de junho de 2010

Seja esquisito!

Eu sou esquisita. Não consigo me imaginar realizada se tiver um puta salário sem paixão pelo que faço. Sou um fiasco para me vender, embora precise disso para sobreviver. Prefiro falar de como superei aspectos negativos da minha personalidade do que como conquistei as pouquíssimas coisas materiais que, entre aspas, possuo. Odeio ser o centro das atenções. Mas também acho insuportável não ter atenção nenhuma das pessoas importantes pra mim. Ouço conselhos, mas faço o que me dá na telha: sou empírica. Penso demais, o que me torna complexa. Mas na prática, sou prática. Não costumo gostar de bolo de aniversário, mas sempre experimento um pedacinho pra ver se não mudei de ideia (eu vivo mudando de ideia). Leio muito, vários livros ao mesmo tempo, mas geralmente só o que me atrai. Tenho cinco livros de Nietzsche e vou confessar que não terminei de ler nenhum. E não entendi a maior parte do pouco que li. Acho que uma pessoa deve estar preparada para uma leitura. Eu não estou preparada para superar o egocentrismo do Nietzsche. Sou fascinada por Clarice Lispector. Sou totalmente inquieta: só que por dentro. Minha mãe fala que quando eu era neném, dava muito trabalho por não dar nenhum trabalho. Explico: ela tinha que adivinhar se eu tava bem ou tava doente, porque eu era quietinha demais. Podia estar queimando de febre que não chorava. Tenho 24 anos e ainda não aprendi a expressar minhas dores. Nem as físicas, nem as emocionais. Guardo quase tudo. E fico desconcertada quando me adivinham. Mas aliviada também. Quero ser mãe. Todos os meus esforços para construir minha trajetória e minha vida estão relacionadas com a estrutura que quero dar a mim mesma e aos meus filhos. Acredito no amor. Acredito no amor infinito. Duvido de tudo o que foi dito sobre deus até hoje, mas não duvido que exista algo mantendo o universo em movimento, algo inimaginável e indefinível. Acredito porque sinto. Não penteio meus cabelos. Odeio falar ao telefone. Não gosto muito de falar. Prefiro escrever. E quando escrevo, evito os fatos. Gosto do que se sente e do que se pensa em relação aos fatos – apesar desse texto em especial retratar nada mais nada menos do que: fatos. Não uso salto alto. Se existe um poder feminino, não creio que esteja na altura do meu sapato. Não me importo de usar um pé de cada meia quando não encontro o par certo. Prefiro calcinhas de algodão. Me sinto muito mais confortável entre pessoas simples em suas aconchegantes casas velhas. Não assisti a um só capítulo de Lost. Não tenho peitões, nem vontade de colocar silicone. As pessoas que mais amo são totalmente diferentes de mim. Acho muitas pessoas que escrevem errado muito mais inteligentes do que algumas que fazem questão de corrigir o “português errado” das outras. Às vezes, quando estou muito feliz, me pergunto: o que vem depois de “ser feliz”? E concluo que “ser feliz” não é nada, e me acho patética. Sabe aquela frase que diz “ Vocês riem de mim por eu ser diferente. Eu rio de vocês por serem todos iguais.”? Pois então: eu sorrio para todos, porque acho tudo isso uma grande bobagem. Eu sou realmente muito esquisita. E sabe qual é o preço que pago por isso? Ser eu mesma.




Portanto, bata o pé e grite “não!” quando o mundo cobrar de você alguma coisa que não tenha nada a ver com aquilo que você essencialmente é. Seja um estranho para todos. Mas não seja um estranho pra si mesmo. O preço que você paga por “ser você” pode ser alto. Mas nunca será mais alto do que o preço que você pode pagar por “não ser você”.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Educação pra quê?

Um convite à reflexão no Dia da Educação.

Pare tudo o que você está fazendo agora porque essa pergunta, de repente, pode te fazer pensar muito. E, realmente, é preciso pensar bastante para responder a essa questão. Para que existe Educação? Existem várias respostas, inúmeras, e tenho certeza de que a maioria das respostas que vocês me derem estarão corretas, até mesmo porque educação não é um conceito fechado e sua utilidade é realmente muito maior do que se pode imaginar. Comecei uma discussão no Twitter, e algumas das respostas foram:

@Natacha_O Pra votar em um analfabeto como presidente.

@Natacha_O Não sei pra que serve. Nunca vi, nem ouvi falar nesse país.

@Natacha_O p/ mim, a educação serve p/ 1 comunicação + eficiente e diminuição de conflitos provocados por "instintos", se é q me entende. rs

@Natacha_O @paolitz Que a educação está relacionada ao social, não tenho dúvidas. Mas será que não há um "pra que serve" mais individual?

@paolitz @Natacha_O @alezev Só deixando meu ponto de vista... mas a educação é premissa para um bom convivio do contexto social

A minha resposta traz influências de uma aula que tive no ano passado, com um professor de filosofia. Ele chegou na sala e fez exatamente essa pergunta. Os alunos de Letras deram suas diversas respostas, nenhuma incorreta, obviamente. Todas faziam muito sentido. Depois de ouvir todos os estudantes, o professor discursou, afinal. E nos deixou intrigados, a princípio.

Ele nos disse que a Educação servia para que Auschwitz não se repetisse. Pra quem não sabe, Auschwitz foi o centro administrativo do nazismo, o nome dos campos de concentração e extermínio, onde foram mortos centenas de milhares de judeus.

Vista de Auschwitz. Na entrada, lê-se: "Arbeit macht frei" - "O trabalho liberta". Quanto senso de humor eles tinham, huh? 

Parece que isso está longe de se repetir, não é mesmo? Mas não sejamos ingênuos. Talvez “Auschwitz” nunca se repita. Mas se colocarmos nossas cabecinhas para funcionar, perceberemos que o Holocausto é apenas uma metáfora para barbárie. A educação deve servir, primeiramente, para evitar as causas da violência entre os seres humanos.

 Theodor Adorno disse o seguinte:

...aquilo que gera Auschwitz, os tipos característicos ao mundo de Auschwitz, constituem presumivelmente algo de novo. Por um lado, eles representam a identificação cega com o coletivo. Por outro, são talhados para manipular massas, coletivos, tais como os Himmler, Höss, Eichmann.”

Identificação cega com o coletivo? Opa. Peraí. Por que ocorre identificação cega com o coletivo? Porque, de um modo geral – observadas as devidas exceções - , não somos educados para pensar. Ainda mais quando se trata de pensar contra a massa. Não somos incentivamos a formular contrapensamentos. É muito mais cômodo seguir os padrões. De beleza, de comportamento, os padrões são os patrões, e nós, os servos.
A utilidade primeira da Educação deve ser a formação de indivíduos capazes de pensar os próprios pensamentos. Capazes de discordar com a violência ao invés de calar diante dela, ou fazer de conta que ela não está ali. A falta de autonomia e de auto-determinação são condições favoráveis à barbárie. O único meio de evitar a metáfora da repetição de Auschwitz é a conquista da autonomia e o poder para negar a barbárie, para que não haja obediência cega a nada, a ninguém.
Você já reparou como nos sentimos mais fortes quando estamos em grupo? É só observar jovens que andam em bandos no ônibus, gritando palavrões, fazendo baderna. Os grupos às vezes nos idiotizam. Nos fazem agir de uma maneira que não agiríamos se estivéssemos sozinhos. De uma maneira que sentiríamos vergonha. Para Adorno, evitar Auschwitz implica em resistir ao poder cego de toda espécie de coletivo, brutalidades e violências justificadas por costumes e ritos.
Em nome dos costumes e ritos, o ser humano tem sido vítima de uma educação pautada pela severidade. Isso facilita o desenvolvimento da barbárie. Afinal, dureza nada mais é do que indiferença à dor. “Quem é severo consigo mesmo, adquire o direito de ser severo com o outro.” Se as pessoas não fossem indiferentes umas às outras, Auschwitz não teria acontecido.
Atualmente, as pessoas se sentem mal amadas, e, consequentemente, incapazes de amar. O calor humano é pré-requisito básico contra a barbárie. Então a educação e o amor devem andar juntos. Não existem separados. É para o amor que a educação deve existir. O amor capaz de impedir a barbárie, a violência e a indiferença entre os seres humanos.
O resto é consequência.

sexta-feira, 12 de março de 2010

A cena eletrônica do Brasil vista por dentro. Por dentro de mim.

Hoje o Subversivo postou um texto com o título “Tudo culpa do psy”. Eu torci o nariz, porque já imaginava que viria MAIS um dos inúmeros textos com a opinião elitizada sobre a cena eletrônica, daqueles que dizem que o psy é ruim (sick), que a música evolui e agora o negócio é minimal, techno, low (sick), que tem gente que estraga a cena “porque nem sabe que o que é essa música que tá tocando”, “porque se entope de dorgas”, “porque usa corrente de prata”, “porque dança porn”, “porque blábláblá” .

Sinceramente, eu já estou muito cansada disso tudo. Eu fico sempre dividida entre meus amigos “da elite da cena eletrônica” e meus amigos “da escória da cena”. Tenho mesmo que escolher? Não é questão de ficar em cima do muro. É uma questão mais profunda: não quero rotular as pessoas porque se tem uma coisa que eu odeio que façam comigo é que me definam. E ainda mais de maneira errada. Estou cansada de toda essa ideologia barata, que me sai bem cara, por sinal.

Ufa, desabafei. Mas voltemos ao texto. Eu torci o nariz com o nome porque achei que ia ser mais uma desses que estereotipam os frequentadores de rave. Então comecei a ler, já esperando pelo pior.  A cada linha, mais uma torcidinha no nariz. Porque parecia fazer exatamente o que eu não gosto: definir o comportamente de um raver. Mas depois fui percebendo, não sei se erroneamente, e isso veremos se o autor daquele texto vier e ler o meu, que esse texto tem um tom muito pessoal, e por ser tão pessoal, tão íntimo, soou como universal também.

Eu passei por muitas das fases que ele mencionou no texto. As fases de um “raver”. Tirando a parte do começo porque sempre gostei e dancei música eletrônica. Eu ri quando ele falou de Shiva, porque no começo eu também fui pesquisar as raízes do psytrance, e juntou de eu gostar dessa coisa mística, o que me motivou a ter uma queda ainda maior pelas festas.
Era tudo paz e amor, eu queria morar numa rave e vamos praticar o PLUR! Mas sei lá, depois de um tempo passou a me soar meio vazio, entrar na comunidade do PLUR no orkut e ver pessoas DA comunidade xingando uma a outra. Me toquei logo que se eu quisesse praticar o PLUR, seria na vida, pois aqueles valores eu não aprendi numa festa, e sim em casa, na escola, nos livros que li, com meus amigos. Desisti de Shiva.

Eu parei de comer carne! Tá, não foi por causa das festinhas, mas achei engraçada a coincidência de ele ter mencionado isso no texto, da pessoa parar de comer carne. Mas saibam que depois de cinco anos eu voltei, tá gente? Outra coisa que ele menciona é o isolamento que a gente acaba criando. E também me isolei um pouco, porque acabei não fazendo mais questão de ir a baladas que não tocassem o estilo de música que eu gostava.
Viu só? A minha história de ‘raver’ tem um pouco a ver sim com a história que ele contou. Então, por isso, o texto dele foi me agradando mais. Vi verdade no que ele escrevia. Ele não queria tomar um posicionamento, ele simplesmente contou uma história parecida com a de muitos. Meio que universal.

Eu segui em frente nessa vida de ‘raver’, e até hoje me sinto membro de um movimento que se faz a cada ano que passa, e que só será realmente visto como tal pela sociedade quando ele fizer parte do passado. Aí nossos filhos e netos analisarão com frieza o que “isso que está sendo” “foi”.

Mas, no final das contas, como é que isso muda a minha vida? Nos meus álbuns do Orkut? Nas histórias que tenho pra contar? Os anos estão passando, estou ficando velha. Mas ainda me sinto parte dessa história, desse movimento, não quero me desligar. Toda essa situação me causa sentimentos contraditórios demais. Tenho que escolher uma posição? Elite ou escória? Onde é que eu me encaixo? Eu tenho que me encaixar?
Eu escolho não me encaixar, então. Vai continuar sendo tudo muito contraditório e eu misteriosamente continuarei me rendendo às festas, aos meus amigos “da elite e da escória da cena”, continuarei ouvindo os amigos “da elite” falando mal dos “da escória”, e continuarei vendo os “da escória” sendo totalmente indiferentes ao que aquilo que os “da elite” falam ou pensam a respeito deles.

Independente disso, a cena vai continuar. Comigo ou sem migo. E muitas coisas vão mudar, rapidamente, como hoje estão mudando. E muita gente que não gostava de música eletrônica vai ter aquele amigo que freqüenta as festas querendo levar pra conhecer. E a mídia vai causar mais polêmicas e dar mais visibilidade ao que antes era exclusividade e escondido. E quem diria que aquela matéria de alerta, falando sobre jovens doidos, drogados curtindo por dias uma música repetitiva, poderia atrair tanta gente e criar uma industria tão louca.

Não está nada confortável aqui, sabe? Mas é engraçado. Eu simplesmente não consigo não estar aqui.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Travessia

Tenho medo do que me espera, mas não tenho medo do medo. Quando eu chegar ao que me espera, já não serei mais eu, e não terei mais por que temer. Há um eu muito maior do que eu do outro lado do medo insuportável. E por não suportá-lo, o atravessarei. É para o outro lado de mim que vou.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Piada de * é aniversário.

Silêncio total na criação. Todo mundo concentrado, trabalhando. O Du e eu, redatores, pensando em uns cartões de aniversário, cada um diante do seu computador, pensando. Pensando. Porra, aniversário? Porra. Aniversário? PORRA.

Ele vira pra mim – pois que se senta à minha direita – e fala: não importa quantos anos você viveu. E eu, séria, olho para ele e digo: o que importam são os anus que você comeu.

Vida de redatora é assim. Tem piada sem graça quando você menos espera. Mas antes uma piada sem graça do que o silêncio corporativo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

É preciso não deixar os clitóris virarem pintos.


Ontem eu li um artigo do Planeta Sustentável que mexeu demais comigo. Sobre a castração feminina, que acontece principalmente na África. Mexeu demais comigo porque sou mulher, e porque não posso fazer nada a respeito, a não ser lamentar, odiar, repudiar, recriminar, e todos esses verbos no infinitivo que demonstram a minha indignação. E depois aceitar humildemente a ideia – inaceitável, diga-se de passagem, sempre será inaceitável na minha opinião, e dizer que aceito é apenas uma força fraqueza de expressão - de que é tudo uma questão de cultura. Cultura em que não é desejável que a mulher possa simplesmente: poder.
Fui pesquisar a respeito, quis saber o porquê de tudo isso. Porra, para ter o clitóris arrancado, muitas vezes sem anestesia, e o racho costurado para sempre, ficando só o buraquinho do xixi e a abertura vaginal (por onde as mulheres mantém relações sexuais sempre dolorosa, pois a vagina acaba atrofiando), deve ter um motivo – mesmo que mitológico – muito importante, não? Só que nem mesmo uma anciã tribal consegue responder à questão. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém consegue explicar.
Daí que eu penso aqui com meus botões intactos, a respeito da questão do poder masculino sobre as fragilidades femininas. Não adianta botar culpa nas religiões patriarcais – o que eu adoro fazer e faço sempre que posso, confesso. A soberania do pinto sempre existiu, sempre imperou nos homens, em maior ou menor grau. E o pior: de forma calada, camuflada. Inconsciente.
Pra mim, a mutilação feminina é uma prática machista inconsciente. Quem entende um pouquinho de psicanálise compreende o que o falo – modo pomposo com que os psicanalistas nomeiam o pinto e toda a sua trágica simbologia - representa.  O “falo” simboliza poder. E o poder tem que ficar com os homens, portanto, um clitóris pode representar uma grande ameaça. É, ué. Vai que o grelo órgão resolve crescer e vira pinto, não é mesmo? Então é melhor “calar” o mini-falo da mulher, pra ele não crescer, e, com ele, não crescer o poder da mulher. Nós fomos sempre mutiladas, quer seja fisicamente, psicologicamente, moralmente ou simbolicamente.
Peço perdão aos homens pelo que vou falar, sei que é uma postura totalmente irracional da minha parte, mas sinceramente, eu tenho raiva de vocês. Eu sinto raiva. Porque esse poder masculino ainda encontra suas brechas para se manter presente, em pleno século XXI, embora em proporções muito menores, é claro. É óbvio que tivemos muitos avanços nesse sentido.
Mas ainda assim, muitas vezes eu sinto raiva, uma sincera e honesta raiva de vossos pintos (caso de amor e ódio, admito, porque né... convenhamos, rs). Uma sincera e honesta raiva daquilo que vossos magníficos pintos representam pra vocês. Talvez seja por isso que, friamente falando, às vezes não tenho piedade dos homens que sofrem, em especial por amor. Parece que sempre sobram motivos para que um homem sofra. Por uma mulher então, nem se fale.
Um dos meus prazeres mais peculiares é conhecer a falta de dignidade de um homem e a maneira com que ele trata suas caças vítimas peguetes, e depois vê-lo perdidamente apaixonado, sofrendo, levando bota de uma delas. Porra, eu tenho vergonha desse prazer porque sei o quão irracional ele é, mas me sinto tão vingada. É uma vingança do meu gênero, esperando por séculos para acontecer. Uma vingança que realizamos secretamente. Tão secretamente que às vezes nós mesmas não nos damos conta disso.
Não é um movimento #vingançafeminina, não é organizado, não tem seguidores. Mas acontece. As mulheres estão se vingando. Estão tomando o poder, e olha que nossos clitóris continuam sendo apenas clitóris, não viraram pintos. Estão se defendendo, mesmo quando suas defesas se resumam a: dar botas.
Espero que os leitores do sexo masculino compreendam e que não tirem conclusões precipitadas a meu respeito. Eu não generalizo, tá? E, se generalizo, é uma questão momentânea. É quando eu perco a minha identidade e me sinto apenas uma pequena célula do corpo feminino que todas as mulheres do mundo constroem. E, fazendo parte desse grande corpo, eu deixo de ser eu para ser todas as mulheres do mundo, e me vejo no direito de me sentir vingada por elas. Mas logo eu volto a ser um indivíduo novamente, com um nome, com sentimentos próprios, com laços de amizade e afeto e amor pelos homens que me rodeiam. 
Eu me compadeço sim com vossos sofrimentos, homens. Eu não sou radical, e nem tenho esses pensamentos o tempo todo. A loucura bate de vez em quando, só. Se é loucura mesmo ou lucidez extrema, me digam vocês.
É que sabe... um artigo do tipo que eu li ontem me causa sentimentos que eu não sei nomear, e desencadeia todo esse processo mental do qual eu não saio impune. Quem me conhece de perto sabe que eu não sou feminista, muito menos machista. Sou uma mulher que deseja ser tratada não com igualdade, mas com equidade. E que deseja isso a todas as mulheres do mundo, por mais utópico que possa parecer. É o que desejo a todas as mulheres ocidentais com seus sexos intactos. E a todas as mulheres mutiladas da África.

Na foto, Waris Dirie. Quando tinha 13 anos, foi prometida a um homem mais velho, mas conseguiu fugir para a Europa. Lá, foi descoberta por um olheiro e tornou-se modelo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Que bosta, Ele está no meio de nós.


Entrou e ficou desajeitada ali na minha frente. Tive vontade de perguntar a ela se queria que eu carregasse seu livro, mas quando dei por mim, era Nietzsche. Então tive medo e fiquei quieto, até mesmo porque ela estava distante, olhando firmemente para fora da janela, talvez para a garoa que não parava de cair. Para as árvores que passavam. Para as pessoas que entravam a cada estação.

Cabelos loiros, não do tipo amarelo, bem cuidados. Unhas vermelhas, sem maquiagem. Trepava bem? Sabe-se lá, tinha era cara de boa moça, mas dizem que essas carinhas enganam, então sempre fico confuso. Ás vezes ela apertava os lábios, como se lembrasse de algo, ou tentasse esquecer. Devia ter um nome daqueles fortes, que enchem a gente de espanto. Que vontade de perguntar seu nome. E ela responderia: Sophia – que é um nome desafiador – e eu repetiria: Sophia, que nome lindo.

Não, não repetiria seu nome, nem diria isso. Seria patético, na verdade. Meu interesse deveria ser subentendido, eu diria: Sophia – com um simples sorriso enigmático no rosto, como se não houvesse um grande interesse nela. Como se eu já tivesse comido alguém com esse nome, e não necessariamente estivesse afim dela.

Pensando bem, só o fato de perguntar-lhe o nome seria horroroso. Meu interesse ficaria nítido. Se ela não estivesse segurando Zaratustra, seria apenas mais uma mulher bonita no metrô. Mas era o todo que me interessava, o todo com o livro. E, pelo fato do livro estar em suas mãos, eu gostaria de saber seu nome. Mas, ridiculamente, pelo mesmo fato, eu tinha medo.

Bem que poderia cair uma moeda de seu bolso, e então eu pegaria. Aí ela sorriria para mim e eu para ela. E perguntaria educadamente se ela gostaria que eu segurasse seu livro e sua bolsa verde musgo. Estava eu a depender de algo que nunca tive: a sorte. E talvez a sorte me trouxesse um amor.

Amor? De que estou eu a falar, afinal? É apenas uma moça bonita com um livro interessante nas mãos. Isso não quer dizer que ela trepe alucinadamente bem, nem que ela goste de beber cerveja ou quem sabe uísque. Quem ela pensa que é para se intrometer assim na minha vida interior, no meio de um final de tarde chuvoso?

Ah, não, velha filha da puta, não! Por que desocupou o lugar da frente? Agora ela sentou e eu perdi a minha chance de segurar seu Nietzsche e quem sabe seus, hum, seios? Droga de velha maldita. Por que não estava sentada no assento preferencial? Não tenho mesmo sorte, isso é fato.

Ela está lendo. Tão linda lendo. Às vezes para e mira o teto, com um olhar perdido. Será que ela entende Nietzsche? Tenho medo, porque eu mesmo não entendo muito bem. Agora ela mexe na bolsa verde, parece se preparar para descer. Ela é lindamente atrapalhada. Deve tropeçar pra caralho na rua. Apaixonante.

Espera. Fala que é mentira. Isso é um chaveiro daqueles que tem aquele líquido dentro? Escrito “Jesus te ama”? Ela lê Nietzsche e tem um chaveiro brega com a frase “Jesus te ama”? Como assim? Se eu acreditasse em deus, diria agora que ele me salvou de uma crente-wannabe-intelectual-tesudona. O Senhor acabou com o meu encanto em menos de cinco segundos. Acho que pela primeira e última vez na vida eu direi: “Obrigado, Senhor”.

Que alívio não ter tido sorte. Não fosse por aquela bondosa velhinha, eu ia bater uma punheta pensando naquela crente, que desperdício! Puta merda, eu sou mesmo foda. Tenho algum tipo de sexto sentido pra esse tipo de coisa. Sabia que se fosse pra dar certo, eu teria tido coragem de puxar um papo. Alguma coisa tinha ali. Sabia. E essa coisa era Jesus! Jesus! Ironia do destino. Que vontade de rir.

Então a moça se levantou. Seu nome era Mirela. Saltou do metrô, subiu a rua de casa e pensou, decepcionada, por que é que ele não havia se oferecido para segurar seu livro e sua bolsa. Ele era tão bonitinho, qual seria o tamanho? - riu. Mas era desligado demais: viu que estava toda desajeitada com seu livro e sua bolsa, e nem pra oferecer uma ajudazinha? Bicho burro.

Foi abrir o portão de casa, fitou as chaves e pensou: por que eu só lembro de trocar essa merda quando olho pro chaveiro? Vou comprar um novo agora mesmo. E dar esse aqui pra dona Ana, aquela louca que vive querendo me fazer acreditar em deus.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Amor é um treco de asas. Ah, se é.

Para algumas pessoas, funciona assim. E assim sempre será. Eu explico. Um homem e uma mulher se encontram. Rola aquele clima ridículo e infugível: ela não sabe onde coloca as mãos, para onde olha, qual resposta tola evitar à pergunta tola que ele fez na tentaviva tola de impressionar. Dois tolos arriscados à tolice do amor. Depois vão se conhecendo, se encantando. E deixando a tolice de lado. A fase da boa impressão já foi, e já existe estima recíproca o bastante de não vigiarem tão de perto. Ela já olha nos olhos dele como se fossem antigos um ao outro. Ele já não precisa tagarelar o tempo todo para se fazer presente. Até mesmo porque já rolou o silêncio das salivas. Dos abdômens se encontrando e se apertando. Já rolou de irem ao cinema, ao museu, àquela balada doida que ela não larga por nada nesse mundo. Já existe ciúmes, já existe cumplicidade, já existe o atalho perfeito pra fazer com que ela goze. Já existem dois sogros e duas sogras na relação. Tudo, tudo isso vem antes do tão esperado e desesperado amor.

Porque não existe amor à primeira vista. Amor não existe à vista: acontece a prazo. A prestações é que se financia o amor. Como a uma casa própria. Como a um carro zero. Isso quando ele não queima a largada e acaba atropelado pela tentativa de ser maior que a si mesmo. Vou explicar. Ele é carente. Ela é livre. Primeiro livre da mãe, dos pais, da religião. Só não é livre da profissão, talvez, porque é essa escravidão que permite as demais liberdades dela. E ele simplesmente não sabe lidar com esse aparente descompromisso dela. Além do mais, ela não sabe ser senão espontânea. Seu carinho é demonstrado nos momentos de ápice de carinho, e não possuem uma ordem. Aquela ordem rigorosa de mensagens de boa noite exatamente às 22h30. De mensagem de bom dia exatamente às 9h30. De telefonema no horário de almoço. De ter que avisar toda vez que os passos dela saíssem do itnerário casa-trabalho-casa.

Não. Suas demonstrações de carinho não obedeciam a ordens pre-estabelecidas, não eram parte de um contrato. Simples: batia uma lembrança, uma saudade, ou até mesmo uma insegurança - porque era livre mas não tinha sangue de barata - e ela ligava, mandava mensagem, mandava e-mail, dava um jeito de aparecer para demonstrar o que sentia. Essas demonstrações de carinho obedediam somente à vontade. Mas porque ela era livre, ocupada e tinha uma vida social muito ativa, não era em todo-dia-toda-hora que ela tinha esse ímpeto.

Daí ele, acostumado a andar de pés no chão, não entendia essa coisa de ter asas e voar para onde quer. Para ele, amor era algo como chão. Ele sabia lidar com tropeços, mas não com voos. Só que ela voava. E ele não podia acompanhá-la sempre. E mesmo que ela o levasse para o alto muitas vezes, ele queria mais. Ele queria que ela o levasse todas as vezes. E ele queria regras. Ele queria ordem. Ele queria a vontade dela quando essa vontade não existia. Ela voava e ele dizia: volte para o chão. Sempre assim: volte para o chão.

E tudo aquilo que poderia ser fica não sendo.E então toda aquela possibilidade de amor concretizado sai voando também. Para longe dele e para longe dela. Porque para algumas pessoas, o amor é assim. Um treco com asas. Pronto pra voar e fugir assim que se depara com uma gaiola.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Música eletrônica além da pista de dança. #euquero


- Que tipo de música você gosta?
-Eletrônica.
- Sério, você curte rave? Que da hora, eu também. Qual a próxima, hein? Vamos? Qual DJ você gosta? Eu adoro Bruno Barudi, o cara é foda.
...

Atire a primeira track quem gosta de música eletrônica e nunca passou por essa situação. Embaraçosa, às vezes, porque você não vê motivos pra ser antipático. rs

Mas enfim, isso não importa muito. O que eu queria dizer é que tô um pouco cansada disso tudo. Se eu gosto de rave? Pô, gosto. Frequento, adoro. Mas sério? Música eletrônica não é só isso. Os especialistas de plantão que me perdoem, mas eu não estou aqui para falar nenhuma verdade, mas a minha impressão.

Então, por favor, não venham cortar a minha onda. Porque o que mais existe hoje em dia é neguinho falando que entende de música eletrônica. Mas no meu caso, não se trata de entender, mas sim de sentir.

Música eletrônica não é só pancadão, minha lindas pessoas. Existem músicas desse gênero que são verdadeiras obras-primas, sublimes, capazes de nos transportar a um outro mundo – sem hoffmans e orbitais, olha que bom ;).

Eu adoraria ir a um show de música eletrônica. Sabe o show do kraftwerk? Então, sonho com o dia em que a gente vai poder levar nossos filhos a shows de música eletrônica, e dizer: olha filho, isso é música boa. 

Dançar é bom? Lógico. Mas eu também gosto de apreciar o som. Prestar atenção nele, com o corpo quieto. A música eletrônica, pra mim, vai muito além da pista de dança. 


Quer um exemplo? Ouve só esse som do Infusion. Presta atenção na mensagem que a música passa. Queria ter um videozinho melhor, mas esse já tá bom para que vocês possam ouvir o som.






Outro exemplo? Esse aqui, do Trentemöller. Mais uma vez, desencanem do vídeo retardado e prestem atenção na música.





Espero poder um dia falar que eu tô indo curtir música eletrônica e alguém me desejar "um bom show". Enquanto isso não acontece, continuarei ouvindo essas obras-primas no fone. E indo pra balada dançar.




terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Marginais continuamos: da poesia da geração do mimeógrafo à poesia da geração digital.


Era uma vez um monte de poetas que não conseguiam publicar seus livros por não serem aceitos pelo mercado editorial. Era uma vez porra nenhuma. Desde sei lá quando – se pá desde sempre mesmo - o mercado editorial no Brasil (será que é só aqui?) não valoriza os poetas nacionais.

Dê uma voltinha por qualquer livraria. Você vê um monte de novas edições e coletâneas de Drummond (adoro, óbvio), mas e os poetas novos? Não temos poetas novos? Claro que temos. Mas é que dizem as más línguas e as más vontades que poesia não vende. Então, pra que investir, não é mesmo? Só de vez em quando, pra não pegar mal. Pra dar um ar de ‘sei ser cool’ à editora. 




Que seja. Pouco importa. Somos filhos dos poetas marginais, que lançavam seus livros a partir de cópias feitas, literalmente, em mimeógrafos e máquinas de Xerox. O Chacal, essa figura aí da foto, fez mil exemplares de uma obra de 34 páginas usando apenas um mimeógrafo! Fodão, falaí! Essas cópias eram vendidas pelos próprios poetas, em envelopes, ou até mesmo outros suportes artesanais.

Assim, eles tinham seus trabalhos circulando por aí, entre o público que variava entre os igualmente poetas ou frequentadores de shows, cinemas ou bares da moda. Ou seja, entre a tchurminha descolada dos anos 70.


Poetas marginais da era do mimeógrafo:
  
Paulo Leminski (ouuun *-* meu preferido!)

E como filho de peixe peixinho é, também encontramos um jeito de fazer valer nossa marginalidade no século XXI. Como? Blogando, oras. Claro que é diferente, porque hoje em dia todo mundo quer escrever, todo mundo acha que escreve, todo mundo quer ser poeta.



Os poetas marginais da era do mimeógrafo precisavam de ATITUDE para tornar seus poemas conhecidos. Os poetas da era digital só precisam de uma conexão e de algum conhecimento de internet. Separar o joio do trigo tá foda, mas com suor a gente consegue. As redes sociais estão aí para ajudar a gente com isso.

Eu conheço alguns bons poetas marginais da era digital graças ao Orkut e também ao Twitter, fora os que conheci na raça, procurando no Google, ou os que eu já conhecia pessoalmente. E vou compartilhar algumas dessas preciosidades marginais com vocês.

Poetas marginais da era digital:

Valéria Tarelho (ounnn, *-* minha preferida! rs)
Lau Siqueira
Aleph Davis 
Mario Pirata
E eu, hahah 

Conhece poetas marginais da era digital também? Deixe o link nos comentários. Num próximo post posso publicá-los também. 





Poema de Clarice Lispector. Hein?



Como “sempre conservei uma aspa à esquerda e à direita de mim” (C.L.), meu primeiro post será sobre ela, minha preferida. Na verdade algo que me desagrada. Não nela, mas nas centenas de fãs (?) da autora, que surgem diariamente pela internet.

Clarice Lispector virou moda, principalmente entre os internautas. Incontáveis usuários de redes sociais como orkut, facebook e até mesmo os "bem informados" usuários do twitter googlam supostos poemas dessa enigmática mulher. Ctrl C + Ctrl V e perfil do orkut que 'revela' uma personalidade complexa [NOT], Ctrl C + Ctrl V e facebook ganha um conteúdo mais 'intelectualizado' [URGH], Ctrl C + Ctrl V e o tuíte de arrobafulano acaba de ser retuitado.

O que nem todos esses especialistas em copypastear sabem é que Clarice nunca foi poeta. Nunca-jamais-em-tempo-algum. Não existe nada documentado sobre a escritora ou da escritora que revele tal característica. Lispector escrevia crônicas, contos e romances. Poemas? Definitivamente não.

De boa: cada vez que eu vejo alguém usando seu santo-nome-em-vão – com o perdão do exagero – sinto uma raivazinha. Porque sério, tem textos que até têm seu valor, mas não se comparam em nada com o estilo da autora em questão.

Poxa, se eu tivesse uma enorme maturidade para escrever e me confundissem com algum escritor com características escancaradamente diferentes das minhas, eu ficaria bem chateada. Tipo, 'se gostam tanto de mim, como não conseguem me diferenciar dos outros?'

Este post é mais do que uma homenagem a ela. É uma maneira de eu alertar a todos os que ainda não sabem – e reforçar para aqueles que já sabem – que é preciso conferir a autoria de tudo o que se copia na internet. É um ato de respeito ao autor. Um ato de educação.

Copypasteou? Pô, faz mais uma pesquisa no google e vê se a informação procede. Dá uma olhada se o texto é do autor x ou autora y mesmo. As informações que estão na internet são de responsabilidade de quem as colocam lá.

Separei os ‘poemas’ mais populares que levam erroneamente a autoria da Clarice Lispector. Vejam:

MUDE


Este poema de Edson Marques rendeu um processo aos herdeiros da Clarice Lispector, por uso indevido em uma propaganda da Fiat. Veja aqui mais sobre o assunto.

Mude
Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!
Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.
Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
ecscreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.

Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda!"

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Sabe aquele poeminha que engana todo mundo e que deve ser lido de baixo pra cima? Não é da Clarice também. De verdade? É bem raso e bobinho pra ser dela. Bonitinho e tal - mas NADA a ver com o estilo da escritora. Esse poeminha é de autoria desconhecida.

“Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...”

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Mas o campeão de perfis de orkut, aaah, eu leio e fico 'no veneno', querendo empurrar do penhasco quem copiou aquilo e colocou o nome da Clarice ali. Mas claro que não antes de cortas as asas, né, já que a pessoa 'adora voar'. Grrr. O poema a seguir é de Bruna Lombardi, minha gente. Clarice não era assim rebeldezinha. Eu adoro esse poema, e muita coisa que ela escreveu, de verdade. Só odeio que digam e pensem que é da Clarice.

ALTA TENSÃO

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.

Pra fechar o post, suplico aos 'leitores' de Clarice que escrevam corretamente seu nome: não é Clarisse, não é Linspector. É Clarice Lispector. Combinado?